
Arte em giz por Pocalligrapher
Vocês já viram aquelas decorações com quadro negro e giz? Pode ser em uma parede de casa ou painel de festa. Tem algo de mágico nessa combinação de fontes e ilustrações, tudo feito à mão. E mais, sabe aquela sensação de prestígio que a gente sente quando recebe uma carta ou convite escrito à mão e a caligrafia é perfeita? Se os versos forem de amor, então, emoção imbatível! Nossa, isso até poderia ser história de um filme ou novela, mas acontece bem aqui em Brasília. E a responsável por esse trabalho primoroso é a Patricia Oliveira, da empresa Pocalligrapher.
Fotos: João Lobo
Patrícia é uma mulher muito criativa e talentosa. Tímida, sua arte sempre aparece mais do que ela. Seu trabalho é bem recomendado aqui na cidade. Inclusive, ela já fez muitos chalkboards para o segmento de serviços da Experimente Brincar. As placas sinalizadoras da atividade ou programação das oficinas também são feitas por ela. E é ela quem eu indico quando algum cliente precisa de lettering. Mas queria conhecer além do que é divulgado de sua arte final, queria entender a mágica por trás de cada letra desenhada.

Resolvi, então, pedir para ela falar de coisas que ama antes de começar a entrevista. Sem titubear, ela listou família, ser útil, cantar, estar com pessoas queridas, Jesus, viajar, aprender coisas novas e ensinar. E também gosta de melancia, uva sem semente, açaí, sorvete, pavê e petit-gateau. Sua paleta de cores preferidas? Nude, caramelo, preto e amarelo. Ah, acrescente tudo o que é florido.
Hum… boas pistas sobre quem é essa calígrafa! Mas o que ela tem de letra bonita, tenho de curiosidade. Então, perguntei sobre sua infância. E bingo! As memórias afetivas da infância sempre são reveladoras. Há lindas correlações sobre o trabalho que ela desempenha hoje!
“A-MA-VA brincar de escolinha, ensinar bonecas e amiguinhos!!! Quando meu pai me exortava ao deixar a loja sozinha, eu corria para dentro e logo começava a brincar de escolinha. Todas as bonecas eram minhas alunas e a porta do banheiro da empresa da minha família era o meu quadro [risos]. Ironia ou não, nunca gostei de brincar de mamãe com as bonecas, mas como professora, hummmm…”, revela.
ENTREVISTA COM POCALLIGRAPHER
Patrícia trabalha em escola, também organiza cursos, palestras e vivências terapêuticas tendo como base o lettering. E passa os finais de semana preparando artes em giz para decorar festas. Ela não para! Quer saber mais? Acompanhe a entrevista a seguir.
Que tipo de memória você guarda da sua infância?
Introspectiva, inibida e insegura, amava ter amizades e distribuía meu tempo entre escola, amiguinhos, brincadeiras e trabalho. Sim! Trabalho. Uma das grandes, dentre várias heranças que meus pais deixaram. Recordo-me que havia muito barulho por ser uma região comercial de Sobradinho, mas muita arborizada e com uma grande diversidade nas cores [olha só olhar atento a estética se formando intuitivamente] devido ao comércio local. Desde pequena ajudava meus pais em seus comércios e como qualquer criança, quando não tinha cliente [risos], corria para a rua para brincar. Mas quando meu pai me repreendia por ter deixado a loja sozinha, eu ia para dentro e brincava de ser bancária ou professora.
Quais eram as brincadeiras preferidas?
Minhas brincadeiras preferidas sempre eram aquelas que envolviam interação e movimento, como queimada, vôlei, bandeirinha e bete. Também tinha amarelinha, adedonha, cabra-cega, vôlei, bola de gude, cinco marias, boca-de-forno, bandeirinha, elástico, Ana-mula, etc..
Como é seu processo criativo hoje?
A criatividade está muito mais relacionada à proatividade do que ao talento. O processo criativo é a soma da técnica, treino e perseverança. Claro que para quem é estimulado precocemente e tem uma inteligência, habilidade ou dom (como alguns gostam de denominar), de fato é mais prático, mas a criatividade é a consequência de um processo ativo. Você aciona o start da prática e dedicação e isto se torna algo automático. Não cessa mais. Flui. Do nada você imagina e produz. Basta estimular e aí, seja bem-vindo ao mundo lindo, fascinante e ininterrupto da criação. É como Albert Einstein afirmou há anos e sempre menciono nas palestras: “A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original. A criatividade é a inteligência se divertindo”. Por isto nunca me falta um sketchbook [caderno de anotações de inspirações] na bolsa e celular na mão.
Como apresentar essa linha de trabalho para o cliente?
Por esta modalidade já estar bem difundida, a maioria dos clientes já chega sabendo o que quer. Principalmente, nos casos de execução para interiores ou eventos. Uma vez conhecido o serviço, para a elaboração do sketch [parte do processo criativo], analiso o ambiente, observo as inspirações coletadas pelo cliente, faço algumas perguntas e desenvolvo um briefing com todas as informações necessárias e desejadas. É muito comum os clientes me deixarem livre para criar e até aqui deu certo. Todos ficaram satisfeitos, graças a Deus!
Além da lousa, já vi seu trabalho em balões, roupas, sapatos, paredes… Como é desenhar, desenvolver fontes praticamente a partir de qualquer tema e em qualquer superfície?
Cada processo é único e um desafio apaixonante. O processo é tão dinâmico e envolvente que se não administrarmos o tempo, nos perdemos nele, mas ganhamos com os resultados. Cada criação é uma oportunidade de ser beneficiada com muita produção de hormônios do bem-estar, seja pela satisfação do cliente, pelo aprendizado do aluno, a reabilitação de um paciente, como pela superação da minha própria limitação, competência e mente. Isto que é o mais encantador na arte do lettering. Cada descoberta de um novo recurso, nova fonte, nova ideia, novo traço, nova técnica, novo trabalho, é como encontrar um novo tesouro.
Sua letra era a mais bonita da turma?
Desde nova tinha uma letra diferenciada na turma e gostava de escrever. Caprichava em meus cadernos. Quando via um convite de casamento ou 15 anos, sempre tentava reproduzir, mas nunca ficava do mesmo jeito. Além disto, como meus pais eram muito envolvidos com movimentos da igreja, minha mãe sempre pedia para eu ajudá-la na elaboração dos cartazes que decorariam as casas dos casais que fossem participar dos Encontros de Casais com Cristo (ECC). Neste momento eu me soltava e produzia muita coisa bonita, ao ponto que muitos outros casais pediam o mesmo.
Quando você foi apresentada ao lettering como profissão?
Teve um momento marcante. Tinha um rapaz, irmão de uma grande amiga, que era calígrafo – Acho que nesta ocasião eu tinha 10 anos. Eu cheguei no restaurante de sua mãe para brincar com minha amiga, ele estava desenhando letras e eu fiquei muito curiosa. A partir dali comecei a treinar, as pessoas começaram a solicitar serviços. Mas, extremamente insegura, não sabia precificar, cobrar e muito menos receber. Infelizmente, naquela época, este trabalho também não era valorizado e ganhei mais LER do que dinheiro. Mas continuei e fiz muitos convites de casamento, aniversários, chá de bebê, diplomas e certificados. Lembro-me quando recebi a minha primeira proposta para desenvolver um serviço para o governo, fiquei trêmula, mas fui até o fim.
Demorou até você se assumir como profissional?
Apesar de ter sido remunerada desde nova para o desenvolvimento deste trabalho e todos me verem como uma profissional da área desde aquela época, para mim demorou muitos anos. Para mim era um “bico”. Até que em um dado momento cheguei a ter 3 empregos e me vi com apenas um e ganhando muito pouco. Uma crise terrível! Nesta ocasião, uma amiga da família disse que foi à Europa e se lembrou muito de mim quando viu umas artes em lousa preta: “Você já viu chalkboard? Treine! Eu só quero que você treine!”. Só o nome demorei meses para entender. Ela até baixou o pinterest em meu celular, mas o celular travou e, então, eu deletei o aplicativo. Meses depois lembrei do que ela falou e resolvi pesquisar e fazer um para o aniversário da minha irmã. Ali começou. Para minha surpresa iniciaram as propostas, a visibilidade, os contratos, o retorno financeiro e o nascimento da Pocalligrapher.
Quais trabalhos inspiraram esse aprendizado?
Ainda muito nova, quando descobri a habilidade e o prazer pela arte caligráfica, sempre me empenhei em observar traços, recursos, texturas e composições de quaisquer escritas bonitas que eu encontrasse. Com o surgimento da técnica Lettering, meus olhos se dirigiram para as produções dos profissionais pioneiros no Brasil e no mundo, como Juliana, da Xi-Risquei (Brasília), Ágatham Rolim e Ahha, da Lettering School na Rússia.
Tem algum momento em que você cria livremente?
Normalmente à noite, quando estou à toa ou quando estou com a mente cansada. Para mim é uma terapia! Não resisto!
O que te faz perder a noção de tempo?
Sem dúvida quando estou dando aula para as crianças. Elas são a linda expressão de Deus. A autenticidade, o carinho, o dengo, as palavrinhas erradas, a felicidade por cada descoberta e realização, a disposição, a vontade de aprender, desejo de reproduzir, o querer ensinar, o sorriso quase sem dente, a capacidade de perdoar… Nossa! Só eu sei o quanto me faz bem.
SERVIÇOS POCALLIGRAPHER
Patrícia Oliveira é multipotencial. Aqui segue uma lista tentando organizar tudo o que ela pode entregar de talento para o mundo por meio de seu trabalho. E, claro, sempre buscando manter o foco na difusão de conhecimento, estímulo da inteligência e o estabelecimento de vínculos.
- Palestras sobre os benefícios da arte para a saúde e o pleno desenvolvimento humano;
- Gestão de projetos educacionais para instituições privadas com foco no desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens;
- Cursos regulares de longa e curta duração para instituições de cursos livres e artísticos;
- Atendimento psicopedagógico criativo;
- Programa de arte em terapia (grupoterapia), em parceira com a clínica psicológica Espaço Permitasser;
- Programa de arte em terapia direcionado a gestantes, cuidadores e mamães, em parceria com a coach de mãe Melissa Mazzarello;
- Oficinas de entretenimento para eventos;
- Produção de presentes criativos.
ALÉM DA POCALLIGRAPHER
Sabe o que mais essa boa conversa revelou?
Patrícia também é cantora! Ela já cantou muito gospel e entre suas músicas preferidas estão: Confia (Unção de Deus), Tudo posso (Celina Borges), E se… (Jefferson Pillar), Deus de amor (Diante do Trono), Viver pra Ti Jesus (Gabriela Rocha) e Aprender a confiar (Rafaela Pinho). Quem diria que a brincadeira de imitar a Angélica na infância já sugeria uma carreira de artista na vida adulta?! Ela interrompeu brevemente a carreira de cantora para se dedicar ao lettering, mas prometeu comunicar novidades na área em breve.
E não para por ai. Ela também é escritora! Já publicou dois livros adultos e a previsão é publicar um livro infantil até o início de 2019.
Enquanto aguardamos novidades, vale a pena seguir o Instagram Pocalligrapher. Lá no perfil tem muitas outras fotos e referências lindas do trabalho de Patrícia.
